A crise que o PT de Franco da Rocha enfrenta nos últimos meses intensificou-se ainda mais nesta quarta-feira (6). Um total de 42 pessoas solicitaram a desfiliação do partido em uma ação conjunta, destacando-se membros importantes que entregaram cartas ao diretório municipal expressando o desejo de deixar o partido a menos de um ano das eleições de 2024.
Desde o anúncio da desfiliação de Lorena Oliveira, vice-prefeita de Franco da Rocha, em setembro, o PT vem enfrentando turbulências internas. Alguns membros do partido manifestaram desconforto com o processo de escolha de Marcus Brandino como pré-candidato para a prefeitura municipal no próximo ano.
Marcus Brandino é o atual secretário Executivo do Gabinete do Prefeito, irmão de Kiko Celeguim (ex-prefeito de Franco da Rocha e presidente do PT no estado de São Paulo), filho do deputado estadual Maurici e da secretária de educação Renata Celeguim. Algumas pessoas criticaram o processo, alegando falta de democracia e influência direta dos deputados na escolha.
Desfiliações
“Estou saindo descontente e com o coração apertado, mas feliz por tudo que tive o prazer de participar, porém não me vejo mais no projeto escolhido por alguns”, expressou o ex-vereador de Franco da Rocha, Eric Valini. Durante dois mandatos como vereador, Valini presidiu a Câmara Municipal de 2017 a 2018 e também ocupou a vice-presidência do partido.
A ex-vice-presidente do Conselho Municipal de Direito das Mulheres – CMDM de Franco da Rocha, Samanta Silva, lamentou as escolhas feitas pelo partido.
“Infelizmente, o discurso de algumas pessoas sobre ‘processos democráticos’, ‘construção coletiva e pluralidade’, ficaram apenas nas palavras. E, esta discrepância entre o discurso e a prática, contribuiu significativamente para minha decisão”, disse Samanta em uma publicação no Instagram.
“Minha decepção com a maneira com que algumas pessoas do PT de Franco da Rocha estão se comportando em relação aos filiados que não aderiram à candidatura majoritária de 2024 foi um fator determinante nesta decisão […] Não considero saudável que aqueles que não se alinham a um determinado projeto político sejam convidados a sair do partido”, desabafou.
Rafael Lirani, membro do diretório municipal e conselheiro tutelar de Franco da Rocha, explicou que a falta de valorização e espaço para crescimento foram fatores decisivos em sua escolha.
“Acredito que neste momento, com a proporção que as coisas tomaram, não existirá valorização, tampouco espaço para mim e para outros”, pontuou Lirani. “Por mais que eu saiba que tive o privilégio de aprender e trabalhar com pessoas incríveis, também almejo crescer e espero a minha oportunidade. Diante disso, não posso e não devo ficar em cima do muro”, completou.
Foto e conflito
No dia 22 de novembro, dois dias após a celebração do Dia da Consciência Negra, Nenê Preto, membro da comissão de ética do diretório municipal, compartilhou uma foto com Lorena em um grupo do PT no WhatsApp, desencadeando uma discussão entre os demais integrantes. A discussão expôs as divisões latentes entre os membros, destacando a polarização em torno dos posicionamentos políticos divergentes.
Em um momento mais acalorado da conversa, Marcus Brandino também se manifestou e mostrou descontentamento com membros do grupo que estão inclinados a apoiar Lorena Oliveira.
“Em relação à outra candidata, sem juízo de valor a respeito da discussão aqui, mas acho que já está na hora de você e os demais apoiadores e apoiadoras dela pararem de achar que somos idiotas. Ela já é candidata declarada, já procurou dezenas de pessoas para falar sobre isso. Já tem grupo de apoio e coordenação de campanha”, disse Brandino a uma integrante do partido.
“Já chega de ficar achando que somos idiotas. Está certa de ter, é uma candidatura absolutamente legítima, mas ninguém aqui é criança mais e esse papinho já deu. Tudo bem para quem abriu mão do nosso projeto e decidiu apostar em outro, bola para frente. Mas já chega de fingir”, completou o pré-candidato do PT.
Nomes de peso se desfiliam do PT
Além disso, nomes como o de Franciane Terra (membro da direção executiva municipal como secretária de comunicação), Fabiula de Oliveira (membro da direção executiva municipal como secretária de movimentos populares), Raphael Nunes (comissão de ética), Ricardo Costa (ex-secretário de Educação e Fazenda na gestão Kiko e membro do conselho fiscal do partido) e Professor Calado (ex-candidato a vice-prefeito nas eleições de 2004 e ex-candidato a deputado estadual em 2006), estão entre os que anunciaram a desfiliação.
Avaliação do partido
Em nota, a presidente do PT de Franco da Rocha, Ana Carolina Alencar Nunes, confirmou as desfiliações desta quarta-feira, mas classificou a movimentação como algo “comum em períodos pré-eleitorais”.
“Na tarde de ontem, recebemos o pedido de desfiliação de 42 pessoas, do total de 1.722 filiados que o Partido dos Trabalhadores tem na cidade. É uma movimentação comum em períodos pré-eleitorais, e, em nosso caso, já era esperada como consequência da saída da vice-prefeita. O diretório do PT agradece aos que estiveram em nossas fileiras, pelo período de militância conjunta e, de nossa parte, seguiremos firmes em nossos propósitos, sempre de maneira democrática e transparente” diz a nota.