Aquietem-se corações aflitos… é só uma data!

Ilustração IA
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As redes espalham as dicas e prometem mundos e fundos: da sentada perfeita à mandinga de amarração eterna; há manuais pra tudo que se possa imaginar, do bizarro ao pueril e com pitadas do sobrenatural. O comércio diz que só sentimento não garante nada, o investimento é o que torna tudo inesquecível. Não vale pedra falsa, lanche na esquina ou pipoca no cinema; afinal, o paraíso custa caro, mas os cartões estão aí pra bancar tudo, mesmo que as parcelas durem mais que a relação.

Depois de Papai Noel e das mães é Eros que impulsiona os mais rentáveis períodos de consumo. Segundo a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas a arrecadação da indústria do romance será de mais de 22,14 bi no Brasil.

O amor está no ar com corações por todos os lados, pintados de ‘vermelho-vibrante-cor-de-felicidade’. Os ambientes preparados com menus afrodisíacos, baladas românticas e demoradas filas de espera nos ninhos de amor alugados por hora.

Tem marca de macarrão que fez pasta comemorativa pra data, em formato de coração. Basta um molho vermelho e está feita a homenagem de arrancar suspiros. Ah, o capital não perdoa, ataca por todos os lados, até pelo estômago.

Quanto aos corações reais, há os que seguem à espreita de um milagre e muitos outros aguardando, inevitáveis, em imensas e perversas prateleiras; em cada pulso um punhado de dor, traumas e o pó do vazio e da indiferença. Se em alguns ainda sopra a esperança do alvo certeiro do cupido, em outros há quase a certeza de que mais nada há de acontecer: para o amor estão mortos e sepultados.

A Organização Mundial da Saúde aponta para uma epidemia mundial de solidão e metade dos brasileiros já aparece nas pesquisas locais como sofredores dela. Não se pode sequer culpar os arranjos do COVID, prova de que não são somente os vírus letais que afastam as pessoas. Há muito mais questões e sem esquema vacinal. Está difícil amar e ser amado, tolerar gente e ser tolerado, se adequar às expectativas e padrões impostos.

Hoje, terá o presente maior os corações fortes que, entre palpitações e disritmias, buscam acertar o compasso, enamorando-se do som de suas próprias batidas e que as ecoam por aí, sem esperas ou ilusionismos, sobrevivendo a tudo, à todos e, principalmente ao calendário.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Conexão Juquery 
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