O ex-prefeito de Guarulhos e um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT), Eloi Pietá, anunciou nesta terça-feira (23) sua desfiliação do partido, discordando do processo de escolha do candidato da legenda à prefeitura da cidade. O diretório municipal da sigla descartou a realização de prévias e decidiu lançar o deputado federal Alencar Santana para a disputa de outubro, posição que Pietá também buscava.
Pietá afirmou que estava à frente de Alencar nas pesquisas de intenções de voto realizadas no ano passado. Ele comparou a situação com o Partido Republicano nos Estados Unidos, que realiza primárias para decidir quem será o candidato na disputa à Presidência:
“O PT na cidade de Guarulhos está sendo menos democrático que o Partido Republicano nos Estados Unidos. Lá pelo menos tem as primárias e aqui isso foi proibido. O PT não aceitou realizar a escolha pelos 25 mil filiados que o partido tem na cidade, como determina o estatuto. Apenas 35 membros escolheram que o candidato será aquele que estava em quarto ou quinto lugar nas pesquisas”, afirmou.
Franco da Rocha
Em Franco da Rocha, uma situação semelhante ocorreu em setembro do ano passado. Após 10 anos na legenda, Lorena Oliveira, vice-prefeita do município, desfiliou-se no mesmo dia em que Marcus Brandino, chefe de Gabinete, foi anunciado como pré-candidato a prefeito pelo PT. Muitos esperavam que Lorena disputasse as eleições municipais de 2024 pelo Partido dos Trabalhadores.
A decisão do diretório municipal desagradou a muitos filiados, que criticaram o processo e alegaram falta de democracia na escolha. Isso porque Marcus Brandino é vice-presidente do PT de Franco da Rocha, irmão de Kiko Celeguim (presidente do PT no estado), filho do deputado estadual Maurici (um dos fundadores do PT na cidade), filho de Renata Celeguim (secretária de Educação) e ex-marido de Ana Carolina Alencar Nunes (presidente do PT de Franco da Rocha), com quem tem uma filha.
Diante da situação, o PT de Franco da Rocha viu 52 pessoas se desfiliarem em apenas um mês por não concordarem com o processo de escolha. “Infelizmente, o discurso de algumas pessoas sobre ‘processos democráticos’, ‘construção coletiva e pluralidade’ ficou apenas nas palavras. E, esta discrepância entre o discurso e a prática, contribuiu significativamente para minha decisão”, disse Samanta Silva, uma das que deixaram o partido.
Marta Suplicy
Outra movimentação feita pelo Partido dos Trabalhadores que gerou desconforto interno na sigla foi a escolha de Marta Suplicy para disputar a prefeitura de São Paulo como vice de Guilherme Boulos sem passar por prévias. Aliás, a ex-prefeita nem sequer é do partido ainda, sua filiação só deve acontecer na primeira semana de fevereiro.
Uma ala do partido se manifestou contra a refiliação de Marta Suplicy à sigla. Segundo a CNN Brasil, o movimento é coordenado por Valter Pomar, integrante do diretório nacional do PT. O petista defende em documento que o retorno de Marta seja discutido e votado em reunião do Diretório Nacional do partido.
O documento foi encaminhado ao secretário-geral do grupo político, Henrique Fontana. Dentre os motivos para a recusa, Pomar recorda o apoio de Suplicy ao impeachment da ex-presidente Dilma Roussef, as objeções da ex-prefeita ao optar por sair do grupo, além da relação de Marta com figuras políticas associadas à direita.
“A lição que fica é: qualquer pessoa pode agir como quiser e, apesar disso, em prol de um potencial ganho eleitoral, estamos sempre prontos para ‘virar a página’. O efeito concreto é desacreditar aqueles que se mantiveram resilientes nos momentos mais desafiadores e, simultaneamente, incentivar futuras deserções”, destaca trecho da ação.