Exclusivo: Kiko Celeguim analisa derrota de seu irmão nas eleições de 2024

Ao Conexão Juquery, parlamentar comenta sobre suas ações na Câmara, o cenário político atual e os planos para sua base em Franco da Rocha

Gustavo Bezerra
Kiko Celeguim, deputado federal pelo Estado de São Paulo e ex-prefeito de Franco da Rocha
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Aperto de mão firme, conversa olho no olho e tratamento pelo nome. Essas são características que Francisco Daniel Celeguim de Morais, popularmente conhecido como Kiko Celeguim, construiu ao longo de sua trajetória política. Foi assim que o ex-prefeito de Franco da Rocha e deputado federal pelo estado de São Paulo recebeu o Conexão Juquery em seu escritório político, a Casa Kiko, para uma entrevista exclusiva que durou pouco mais de uma hora.

Frequentemente apontado por seus mais fiéis apoiadores como o melhor prefeito da história de Franco da Rocha, Kiko construiu uma carreira sólida, despertando admiração até mesmo entre opositores, que já o classificaram como um “fenômeno” político, condição que o projetou rapidamente como uma grande liderança na região do Cimbaju (Consórcio formado pelos municípios de Caieiras, Cajamar, Francisco Morato, Franco da Rocha e Mairiporã).

No entanto, toda essa força construída em pouco mais de uma década não foi suficiente para eleger Bran Celeguim, irmão mais velho de Kiko, nas eleições municipais de 2024. Kiko, é claro, avaliou as estratégias de campanha, falou das realizações do mandato como deputado federal, criticou o Conexão Juquery e falou sobre a relação com Lorena Oliveira. Veja abaixo a entrevista.

Como o senhor avalia esses dois primeiros anos de mandato na Câmara Federal? Quais conquistas destacaria até aqui e o que a população de Franco da Rocha e da região pode esperar do seu trabalho nos próximos dois anos?

Não estou totalmente satisfeito, pois gostaria de ter feito mais, mas acredito que conseguimos resultados importantes. Por exemplo, com os anúncios do PAC, conseguimos investimentos significativos para os municípios da região. Só em Franco da Rocha, foram destinados cerca de R$ 250 milhões para projetos como o Instituto Federal, obras de macrodrenagem, urbanização de comunidades, construção de escolas, policlínica e unidades de saúde.

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Kiko Celegui durante sessão parlamentar na Câmara dos Deputados – Foto: Reprodução/Instagram

Além disso, destinei cerca de R$ 30 milhões em emendas parlamentares para a região, considerando as necessidades e relações políticas de cada cidade. No caso de Caieiras, por exemplo, a cidade não foi contemplada no PAC porque a prefeitura não apresentou projeto. Agora, não sei se não apresentou porque a cidade não tem problemas ou porque a prefeitura não tem equipe técnica adequada.

Para muitos, o senhor é considerado o melhor prefeito da história de Franco da Rocha. A que o senhor atribui essa reputação? Existe alguma decisão que acredita ter sido determinante para essa percepção positiva?

Agradeço a deferência. Acho que cada governo deve ser analisado no contexto histórico em que atuou. Fui eleito em 2012, e na época a cidade enfrentava um desgaste político grande, com escândalos de corrupção no governo anterior, o que criou um clima de mudança. Apesar de uma vitória apertada, consegui transformar áreas críticas, como saúde e educação. Por exemplo, ampliamos de 1.500 para 6.000 as vagas em creches e mudamos o serviço de urgência com a construção da UPA, aumentando a quantidade e a qualidade do atendimento. Acredito que minha reputação como bom prefeito vem dessas entregas.

Depois de construir uma liderança regional sólida e influenciar eleições anteriores, como o senhor explica a derrota de Bran Celeguim para Lorena Oliveira em 2024? Na sua avaliação, houve erros estratégicos na campanha?

    Acredito que não houve erro de campanha, mas sim na construção da pré-campanha. Lorena foi eleita por méritos próprios, construindo alianças estratégicas e conquistando a maioria, com 50% dos votos. No entanto, o apoio do PL foi determinante para a vitória dela. Se o PL tivesse lançado um candidato próprio em Franco da Rocha, na minha opinião, ela não teria sido eleita.

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    Bran e Kiko Celeguim durante comício eleitoral em 2024 – Foto: Reprodução/Instagram

    Lorena capitalizou o desgaste do PT em certos segmentos e conseguiu apoio de diferentes espectros, desde a extrema-direita até parte da esquerda. Algumas pessoas do nosso campo político apoiaram Lorena, possivelmente por identificarem nela qualidades como ser mulher, ex-vice-prefeita e ter vínculos anteriores com o PT.

    Ao mesmo tempo, percebo que o fato de Bran ser meu irmão foi interpretado por alguns como um movimento arrogante, o que pode ter afastado parte do eleitorado. Não houve um único fator para a derrota, mas a combinação desses elementos, incluindo o apoio decisivo do PL, explica o resultado.

    Durante a campanha, aliados próximos afirmavam que a vitória era certa. Houve excesso de confiança por parte do grupo político? Essa postura fez parte da estratégia ou refletia uma leitura equivocada do cenário eleitoral?

      Acredito que o governo do nosso grupo não se preocupou em defender adequadamente o nosso legado e em responder aos ataques, muitos deles vindos de dentro do próprio governo. O então prefeito, Dr. Nivaldo, presenciou esses ataques e não reagiu, acreditando que não teriam impacto.

      Além disso, a oposição estava desorganizada, o que talvez tenha alimentado a confiança de que a vitória era certa. Porém, quando percebemos que a oposição havia se consolidado em torno de alguém que já fazia parte do nosso governo, foi tarde demais. A campanha eleitoral, nos 45 dias que antecedem a eleição, tem limitações, pois qualquer discurso feito nesse período é visto como subjetivo e tendencioso.

      Nesse contexto, Lorena conseguiu atrair o voto do PL e também cooptar apoios internos ao nosso campo político, o que foi um movimento virtuoso da parte dela.

      A escolha de Bran para disputar a prefeitura foi apresentada como democrática, mas diante do peso político da sua família no PT local, o senhor acredita que havia espaço real para outro nome concorrer de forma equilibrada?

        Claro! Quando me candidatei a prefeito pelo PT, disputei uma prévia, tive que ganhar votos, tive que visitar os 1.500 filiados do PT na cidade e convencer de que eu era uma alternativa. Naquele momento, em que a Lorena quis sair do PT, os quadros que eram mais próximos a ela, inclusive, eram maioria no diretório do PT. Acho que ela não quis fazer a disputa porque ela achou que ia ter uma intervenção de cima para baixo, pelo fato, talvez, de eu ser presidente estadual, mas no PT não existe isso.

        Lá atrás, eu disse pro Nivaldo o seguinte: Nivaldo, eu tenho que apoiar um candidato filiado ao PT, é normal, é natural, é a agenda do governo, é a agenda construída no PT, toda essa agenda foi a gente que construiu, o PT abriu mão disso. Podia ter sido do PT (candidato) na minha sucessão, e a gente abriu mão disso, e naquele momento todos os possíveis postulantes estavam filiados ao PT. Inclusive a própria Lorena.

        O Dr. Nivaldo, apoiado por vocês, foi eleito pelo PTB, depois fica sem partido, vai para o PSDB e depois fica sem partido de novo. E você disse que naquele momento precisava apoiar um candidato que fosse do PT. Não houve essa conversa com o Dr. Nivaldo para ele se filiar ao PT?

          No PT é difícil você filiar uma pessoa que não é petista para conviver no PT. E o Nivaldo não é petista, nunca foi, nunca escondeu isso de ninguém, nem da gente, nem dele próprio. Se fosse assim, teríamos filiado ele em 2012 e em 2020, mas não foi o caso. O PT muitas vezes é acusado por não abrir mão de nada, aqui em Franco eu não acho que seja isso.

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          Dr. Nivaldo e Kiko Celeguim durante visita técnica da ministra da Saúde em Franco da Rocha – Foto: Reprodução/Instagram

          Aqui em Franco, a gente tinha um governo extremamente bem avaliado, portanto, era perfeitamente possível a gente eleger um candidato do PT. A nossa primeira opção lá atrás era a própria Lorena, né? Ela, inclusive, declinou da candidatura à prefeitura naquele momento, mas eu não acho correto você artificialmente filiar alguém ao PT só para ser candidato. Acho que isso não funciona. Faz mais mal ao partido do que bem. É melhor a gente perder a eleição com gente que pensa como a gente, do que ganhar com alguém por oportunismo.

          Lorena Oliveira foi uma aliada de confiança e hoje é prefeita de Franco da Rocha. Como o senhor projeta a gestão dela? Existe diálogo entre vocês ou a relação política está rompida? Você ligou para parabenizá-la pela vitória?

            Não (liguei). Encontrei-a em alguns eventos públicos recentemente, por exemplo. Não tenho nenhum problema com ela. Claro que tem um distanciamento em função das companhias. Eu sou do seguinte princípio: quem ganha estende a mão. Sempre acho isso. Eu vou continuar fazendo a minha parte como deputado pelos próximos dois anos.

            Existe uma mágoa com a Lorena?

              Eu não faço política com mágoa pessoal. Ela saiu do meu partido, foi para outro time, boa sorte, seja feliz. Não tenho nenhum problema com relação a isso, eu nunca fechei as portas para ninguém. Não se trata de mágoa, ela agora tem os compromissos dela, tem a carreira dela, vai apoiar o presidente da República que ela bem entender, o governador que ela bem entender, os deputados que ela bem entender. Talvez a gente apoie os mesmos candidatos, talvez não. É outra eleição, é outro projeto com relação a Franco da Rocha. Eu espero que projetos estruturantes que a gente iniciou ou contribuiu sigam em frente porque isso faz bem para o povo.

              Com a eleição de Lorena, sua atuação como deputado federal por Franco da Rocha será impactada? Projetos importantes, como a implementação do Instituto Federal no município, continuam sendo prioridade?

                Da minha parte, não, vou continuar fazendo meu trabalho como deputado. Agora, você precisa fazer essa pergunta para ela. Fiz uma declaração pública, parabenizei ela pela vitória e me coloquei à disposição.

                Existe alguma articulação com a nova gestão para viabilizar esses projetos?

                  Os projetos estão todos em andamento, com convênios firmados, e não há como voltar atrás. Quanto à Lorena, se ela se aproximar do PL, me distancio, pois isso é incompatível com minha visão. Não faço política baseada em oportunismo. Em relação à sua página, por exemplo, acredito que você faz uma cobertura parcial. Você tem um lado nesse jogo, mas estou aqui dando uma entrevista porque acho que os seus leitores têm direito de saber o que eu penso.

                  Em 2026, o senhor pretende disputar a reeleição para deputado federal ou tem planos para buscar cargos maiores, como o Senado ou o governo de São Paulo?

                    Em 2026 a nossa prioridade zero é reeleger o presidente Lula, e dar sequência nesse processo de resgate das políticas públicas que acolhem a população mais carente do país. Também é necessário garantir que as transformações econômicas sigam em frente, porque não se consegue melhorar a economia, gerar empregos e fazer a política industrial evoluir em apenas quatro anos. Acho que o papel mais importante que posso desempenhar nesse momento é talvez me candidatar novamente como Deputado Federal, fazer campanha, ir para a rua, somar e ajudar.

                    O PT perdeu espaço na Grande São Paulo nos últimos anos, passando de 10 para apenas uma prefeitura. O que explica esse recuo? O PT precisa fazer uma reavaliação estratégica, resgatar o diálogo com o povo?

                      O PT precisa se reavaliar constantemente, pois o que funciona hoje pode não ser eficaz no futuro. A adaptação ao mundo globalizado é crucial para o partido. O crescimento do PT deve ser medido pela sua capacidade de mobilizar a sociedade, e não apenas pelos resultados eleitorais. Apesar das dificuldades, o partido segue sendo identificado com as pautas progressistas pelas classes populares. O desafio atual não é o PT, mas as pautas que defende, sendo confrontadas por um avanço conservador da extrema-direita. O partido, tradicionalmente voltado para os trabalhadores com carteira assinada, precisa também considerar alternativas para os trabalhadores informais. Essa é uma responsabilidade coletiva da sociedade. O discurso do empreendedorismo, embora inspirador, não garante sucesso para todos, já que o capitalismo não permite que todos os empresários prosperem.

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